terça-feira, 1 de maio de 2012

ATÉ SEMPRE, MIGUEL

O Miguel Portas esteve há precisamente um ano na minha escola a falar da sua experiência como Deputado Europeu e, como era seu hábito, revelou-se um espírito livre e o modo como interagiu com os alunos foi admirável. Até já os tratava pelo nome, como se os conhecesse há mais tempo. Respondeu às questões por eles colocadas com o maior à-vontade e com uma pedagógica simplicidade, até mesmo quando as respostas eram complexas.


Lembro-me que teve a coragem de dizer que tudo, mas tudo mesmo, tem sempre duas faces, que não existe nunca só uma verdade e esta mensagem, nos tempos que correm de ditadura ridícula das ditas ciências exatas, foi uma pedrada no charco. Comprovou ali, naquelas duas horas, que a Economia é uma ciência humana, o que os economistas mediáticos fazem questão de esquecer!...

Quando o Daniel lhe perguntou o que achava da polémica sobre o TGV, não teve uma resposta partidária, automática, de um não perentório. Mostrou várias perspetivas e deixou que cada um ficasse a refletir e chegasse à sua verdade. Ora, é isto que falta aos nossos políticos: serem livres e coerentes com um pensamento verdadeiramente crítico e aberto.

Também falou da caminhada para o Federalismo e da tão ainda longínqua Cidadania Europeia, a qual implica, evidentemente, perda de soberania. Qualquer outro, naquela conjuntura tão quente, seria tentado a puxar para o nacionalismo serôdio e ele não o fez!

À fatal pergunta sobre as diferenças com o seu irmão, respondeu a sorrir, com aquele sorriso só dele, puro, farto e natural: diria que ambos temos em comum a mesma sincera preocupação com a sociedade … mas cada um de nós acredita em soluções diferentes. É apenas isto e eu adoro o meu mano!

Foi mesmo assim … foi deste modo simples, tratando o irmão por mano que demonstrou toda a sua doçura e fez toda a gente perceber que as diferenças ideológicas são uma mais-valia e não um embaraço.

No final do encontro, apesar da sua doença, não se mostrou apressado e ficou calmamente a conversar com os que, como ele, não tinham pressa e a todos respondeu afavelmente e mostrou vontade de voltar. Aliás, prometeu voltar, mas, infelizmente, já não voltou!

Não voltou, mas estará sempre entre nós!

Nunca esqueceremos a sua humildade e a sua postura amiga, a sua garra, a sua capacidade de se dar, a sua grandiosidade, a sua diferença…

E não digo isto pelo facto de ter partido! Digo isto sempre nas minhas aulas. Sempre o parafraseei, quando abordo questões políticas e os meus alunos sabem bem disso! Foi uma sessão política, mas não foi partidária, como muitas vezes acontece. Só grandes homens conseguem tratar assim uma assembleia de jovens!

Obrigada, Miguel.

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