terça-feira, 24 de junho de 2008

Auto-Avaliação

Agora que esta caminhada se aproxima do fim, eis a minha apreciação do trabalho desenvolvido ao longo de todo o semestre:


Após três meses e meio de trabalho colaborativo nesta unidade curricular, intitulada Investigação Educacional, é extremamente difícil verbalizar o que sinto, pois a impressão que tenho é de que aprendi tanto, foram abertas tantas perspectivas, ficou ainda tanto por trilhar…que a minha primeira tentação era para começar tudo de novo! O que quero dizer é que esta unidade merecia, não um semestre, mas todo um ano lectivo e em exclusividade, pois é a unidade que nos ensina as técnicas indispensáveis à elaboração da nossa tese. Portanto, tudo o que eu possa dizer que adquiri, ficará sempre aquém do que gostaria! Tantas leituras tive que deixar a meio, por falta de tempo, tantos trabalhos gostaria de ter realizado para o portefólio e tantos posts ficaram por responder!
Mas, na minha óptica esta sensação não é negativa, antes pelo contrário! Esta vontade de continuar a percorrer caminhos ligados à Investigação Educacional, no fundo é bastante positiva e talvez até seja isso o que se deve esperar das cadeiras de um mestrado! No fundo, esta unidade apenas levanta a ponta do véu e aguça o sentido de investigação e, depois, cada um de nós, com as ferramentas adquiridas, irá tentar fazer o seu melhor, nunca esquecendo o que aqui aflorou.
Um dos aspectos mais importantes que aqui gostaria de registar prende-se com a importância dada ao trabalho verdadeiramente colaborativo e com a capacidade revelada pelas duas docentes – Professora Doutora Alda Pereira e Professora Doutora Luísa Aires – para nos orientarem e exercerem o seu papel de guias discretas, mas sempre a motivarem o grupo para mais e mais.
As discussões nos fóruns foram participadíssimas e de muita qualidade, até porque eram antecedidas, em cada temática, de pesquisas quase sempre em grupo, culminando em trabalhos que serviam de pretexto para os debates.
No âmbito da discussão do Contrato de Aprendizagem, foi lançado o desafio de se decidir qual o formato que a turma queria definir para a apresentação do Portefólio, instrumento de avaliação muito importante. Após a superação de alguns medos mais ou menos tecnofóbicos, foi consensual a escolha do blogue e cada estudante criou o seu com a ajuda das docentes e dos elementos da nossa comunidade virtual mais dados às novas tecnologias. Ficou decidido que a apresentação dos blogues seria feita através de sessões online síncronas, de cerca de 10 minutos cada, logo a seguir ao fim das actividades lectivas.
Seguidamente, formaram-se os quatro grupos de cinco elementos cada (a turma era constituída por vinte estudantes) que iriam trabalhar ao longo do semestre, cada um com a designação de uma cor: o grupo azul, o grupo verde (onde me incluí), o grupo amarelo e o grupo laranja.
O primeiro tema em estudo foi de carácter globalizante - O Processo de, Investigação - e logo aí, a turma mostrou a sua garra.
O desafio lançado pela docente Alda Pereira (as nossas Professoras alternaram sempre e cada tarefa era coordenada por apenas uma) foi no sentido de, a partir da análise de uma tese disponibilizada (As TIC no Jardim de Infância: contributos do Blogue para a Emergência da Leitura e da Escrita, de Adília Lopes), cada grupo elaborar um guião que contemplasse as etapas do processo de investigação, o qual permitisse reflectir sobre as competências exigidas ao investigador nos diferentes momentos da investigação.
A partir de um conjunto de questões pertinentes propostas pelas docentes, os grupos desconstruíram a tese e, a partir dos guiões produzidos, gerou-se um debate livre e, durante uma semana tivemos a discussão foi intensa, como os posts comprovam, o que se saldou num verdadeiro clima de aprendizagem colaborativa.
Penso não estar a exagerar se disser que considero a minha participação neste trabalho bastante positiva, embora ainda pouco consciente das regras do debate em comunidades virtuais. Acho que houve momentos em que tendi a quase monopolizar o debate, embora os colegas tenham referido que aprenderam bastante, mesmo sem intervirem muito. Até acredito, pois noutros temas em que me sentia menos à-vontade aconteceu-me o mesmo e sei que há investigadores que chamam a atenção para os lurkers: pessoas que observam e aprendem com as intervenções dos outros. Podemos mesmo considerar que é uma das características da aprendizagem colaborativa em comunidades virtuais.
O nosso segundo tema foi dedicado ao Processo de Recolha de Dados e realizou-se em duas fases.
Numa primeira fase, os grupos tiveram uma semana para, novamente a partir da desconstrução de uma tese (desta vez, intitulada As TIC e o Ensino do Inglês: Atitudes dos Professores, da autoria de Conceição Brito) e da exploração de Bibliografia afim, criarem um esquema gráfico exemplificativo do planeamento de um Questionário a ser usado como ferramenta heurística auxiliar de um investigador.
Os questionários são instrumentos para recolha de dados, muito usados em investigações quantitativas, nomeadamente em estudos de opinião. São também usados em estudos mistos onde se utilizam vários métodos complementares. São constituídos por um conjunto de itens através dos quais se procura inventariar os atributos de uma dada população ou, até, analisar relações entre atributos dessa mesma população. Exigem um planeamento rigoroso sobre a informação a obter, sobre como proceder para a obter e como a analisar posteriormente.
Após a publicação do trabalho de cada grupo, seguiu-se uma semana de intenso e profícuo debate, onde participei medianamente e com uma qualidade que considero de nível bastante satisfatório. Porém, o trabalho produzido pelo nosso grupo, apesar de reflectir uma boa apropriação da problemática relativa ao questionário como método de recolha de dados, não obedeceu totalmente ao que era pedido, pois não criámos um esquema gráfico. A nossa preocupação em explorar a temática e o facto de nessa semana os elementos do grupo estarem demasiado pressionados com avaliações dos seus alunos, levaram-nos a praticamente abstrair do formato que nos era pedido e elaborámos uma espécie de guião, em vez de um esquema gráfico. No entanto, como guião, o trabalho que criámos estava bastante completo e continha dados que permitem perceber os pontos fortes e fracos deste instrumento de recolha, a sua relação com os objectivos de uma investigação, os passos essenciais a dar e os cuidados a ter na sua construção e os princípios gerais que devem presidir à formulação dos itens. Durante o debate, o nosso trabalho também foi um elemento de dinamização do mesmo, apesar de ter um formato diferente.
A segunda fase do estudo do Processo da Recolha de Dados foi dedicado à Entrevista e desenrolou-se em torno da análise de outra tese, desta vez intitulada Processos de Liderança e Desenvolvimento Curricular no 1º Ciclo do Ensino Básico – um Estudo de Caso, da autoria de Eva Filipa Santos. Durante uma semana, analisámos a tese e durante a semana seguinte, como habitualmente, debatemos em grupo alargado os trabalhos de cada grupo-equipa, o que se traduziu, uma vez mais, numa intensa discussão em que todos aprendemos mais, sempre sob o olhar discreto, mas atento da docente Luísa Aires.
A entrevista é uma das técnicas mais comuns e importantes no estudo da acção educativa. Adopta uma grande variedade de usos e de formas que vão da mais comum (a entrevista individual) à entrevista de grupo, ou mesmo às entrevistas mediatizadas pelo telefone ou computador. A sua duração pode limitar-se a uns breves minutos ou a longos dias, como é a caso da entrevista nas histórias de vida.
Existem três características básicas que podem diferenciar as entrevistas: entrevistas desenvolvidas entre duas pessoas ou com um grupo de pessoas; entrevistas que abarcam um amplo espectro de temas (ex.: biográficas) ou as que incidem sobre um só tema (monotemáticas); entrevistas que se diferenciam consoante o maior ou menor grau de pré-determinação ou de estruturação das questões abordadas - entrevista em profundidade não-directiva, entrevista semi-estruturada e entrevista estruturada e estandardizada.
A nossa tarefa consistia em elaborar, em grupo, uma matriz exemplificativa do guião de uma entrevista semi-estruturada que possa ser usada como ferramenta auxiliar do investigador. Na semana seguinte, houve debate no fórum e avalio a minha participação como bastante empenhada e satisfatória, tal como classifico o guião criado pelo meu grupo como muito positivo.
A semana seguinte foi dedicada ao polémico tema da Investigação-Acção em Educação, mas desta vez, sob a forma de estudo individual, em que cada um procurou reflectir sobre a relação entre a investigação-acção e a posição pessoal do investigador, as vantagens e desvantagens deste método e os seus passos determinantes. Foi-nos sugerida, como sempre, alguma bibliografia e a análise de uma tese, em que o autor, Arménio Fernandes, no âmbito do Projecto SER MAIS, usou o método em causa nas suas investigações sobre a Educação para a Sexualidade Online. Paralelamente, foi aberto um espaço de debate livre, o qual foi muito concorrido e revelou muita qualidade.
A minha auto-avaliação sobre este tema situa-se num nível bastante satisfatório, não só pelas participações no fórum, como pelas leituras que realizei e que são visíveis no blogue. Posso mesmo afirmar que me sinto como peixe na água, quando se trata de metodologias relacionadas com o paradigma qualitativo. Penso que, em educação, devem predominar as metodologias qualitativas, sendo o quantitativo também importante, mas sempre em função daquele paradigma. Confesso mesmo que tenho dificuldades no campo dos métodos quantitativos, como se verificou com a tarefa seguinte.
Seguidamente, entrámos no Tema 4, Análise e Tratamento de Dados, para mim, o tema mais complexo. As tarefas em torno desta temática foram organizadas em quatro fases: fase de estudo individual; fase dedicada à resolução de um problema relacionado com os métodos quantitativos; fase de resolução de um problema de carácter qualitativo e debate no fórum.
Como já referi, tudo o que se relacione com metodologias quantitativas torna-se mais difícil para mim, devido à minha formação-base. Por isso, após a fase de estudo, a resolução de um problema a partir de uma das teses já analisadas, embora noutra perspectiva (a de Conceição Brito), deixou-me completamente confusa, pois tive que estudar estatística pela primeira vez na minha vida. O desafio foi gratificante, mas, mais uma vez, os constrangimentos de tempo deixaram-me com a tal sensação de que falava no início desta reflexão: apenas aflorei aquilo que pretendo aprofundar mais tarde e aqui tenho que sublinhar o papel da Professora Alda pela força que nos deu e pelo modo como soube motivar todo o grupo.
O problema colocado girava essencialmente em torno da adequação de tipos de testes estatísticos a situações concretas apresentadas pela docente a partir da tese citada. Conceitos relacionados com os vários tipos de escala, níveis de significância, estatística inferencial e testes paramétricos e não paramétricos, enfim, uma série de conhecimentos adquiridos para mais tarde aprofundar.
A auto-avaliação que faço do meu desempenho quanto a esta temática vai no sentido do satisfaz pouco. Apesar de algum empenhamento, reconheço que o que produzi para esta actividade ficou aquém do esperado.
Na fase de resolução do problema de índole qualitativa, desta vez a cargo da Professora Luísa Aires, o clima voltou a animar e penso que o meu desempenho voltou a subir para o nível habitual. Tivemos que responder a uma série de questões também acerca de uma das teses já analisadas, a de Eva Santos, mas onde se pretendia problematizar a relação entre os objectivos de uma investigação e os métodos de recolha e tratamento de dados, mais concretamente, a análise de conteúdo, em investigação qualitativa. Fomos confrontados com várias metodologias de tratamento de dados e com programas informáticos afins.
A semana do debate foi extremamente esclarecedora e, mais uma vez, a turma, sob a excelente coordenação das duas docentes, mostrou como o trabalho colaborativo pode ser altamente gratificante, onde a interacção e a troca de saberes, a construção e desconstrução de conhecimentos pode conduzir a um crescimento conjunto deveras salutar. As participações no debate, estudadas em termos quantitativos talvez não revelem o ambiente gerado, sendo necessário um olhar qualitativo para se inferir o clima que se criou. No meu caso, as poucas intervenções não são sinal de menor aproveitamento e considero que também nesta tarefa a minha auto-avaliação pode situar-se no nível do bastante satisfatório.
A última tarefa desta unidade curricular correspondeu ao Tema 5 e abarcou Questões Éticas na Investigação Educacional, decorrendo entre os dias 17 e 24 de Junho, sob a modalidade de Discussão Livre, moderada pelos próprios estudantes.
Como era de esperar, o grupo terminou com chave de ouro, tal foi a riqueza do debate. Mais uma vez, como vem sendo habitual neste final de ano lectivo, devido ao cansaço e à coincidência com a fase pior das nossa profissões (avaliações finais e exames dos nossos alunos), o tempo para diversificar as leituras é escasso e o número de participações também não se compara ao dos fóruns iniciais, mas a qualidade manteve-se e a avaliação que faço desta tarefa é deveras positiva. Auto-avalio a minha participação no nível bom.
Para concluir, gostaria de, mais uma vez, sublinhar o perfil das nossas docentes que se revelou adequado a este novo paradigma de educação online, o qual requer qualidades que não são fáceis de encontrar na docência do ensino superior. De destacar a variedade de estratégias utilizadas e a preocupação em interferirem discretamente na hora certa e com as palavras certas, dando sempre um feedback final em cada unidade, alertando para os aspectos menos claros e abrindo novas pistas. Outro aspecto que quero destacar prende-se com a preocupação em fornecerem-nos as ferramentas teóricas e práticas para a elaboração das nossas teses, independentemente dos temas que eventualmente cada um pretenda vir a desenvolver.
Apesar da diversidade de estilos, das personalidades diferentes e das formações distintas, a turma, graças à e-moderação das docentes, atingiu um nível de satisfação e de interacções bastante bom, garantindo que nenhuma ponta da rede ficasse solta.

Análise Qualitativa de Dados e Informática

Eis alguns apontamentos sobre software e análise qualitativa de dados, com base na tese de doutoramento da Professora Luísa Aires («Vozes sobre a Televisão no âmbito da Educação de Pessoas Adultas: uma Abordagem Sociocultural», 2000: 442-444):

ANÁLISE QUALITATIVA DE DADOS E FERRAMENTAS INFORMÁTICAS

A análise e interpretação de informação qualitativa é um trabalho duro e complexo devido à grande quantidade, heterogeneidade e abertura da informação com que se trabalha e à carência de procedimentos precisos e concretos. Os programas informáticos (AQUAD, ATLAS-ti, ETHNO, ETHNOGRAPH, HyperQual, HyperResearch, NUDIST, QUALPRO…) podem agilizar o processo, mas não podem interpretar; a maior parte do trabalho é manual.
A selecção do software para análise de dados qualitativos deve ter em conta três aspectos (Colás, 1998):
- Os usos e conhecimentos informáticos do utilizador;
- As características do projecto de investigação;
- O tipo de análise que se pretende realizar.
Existem dois tipos básicos de software com aplicações nas ciências sociais:
- Programas Tipo I – recuperadores de texto (Ex: The Ethnograph);
- Programas Tipo II – programas para a construção de uma teoria (Ex: ATLAS-ti e NUD.IST).
O NUD.IST (Non-numerical Unstructed Data Indexing Searching and Theorizing) foi desenvolvido por Thomas Richardson e Lyn Richardson e está estruturado para manejar dados não-numéricos na análise qualitativa. A sua utilização facilita a análise de documentos e de categorias, o levantamento de questões e a emergência de teorias.
Algumas das funções mais utilizadas do NUD.IST:
- Document Explorer (Codificação)
- Node Explorer (Afinação do sistema de categorias)
- Index Search (Fase exploratória de textos: afinação dos sistemas de categorias e de codificação dos textos e levantamento de hipóteses de trabalho)
- Project (Quadros com os resultados das codificações que facilitam a comparação intergrupos).