domingo, 25 de março de 2012

A HISTÓRIA É IMPORTANTE

A HISTÓRIA É IMPORTANTE
Sim, a História é importante e nem vale a pena dizer porquê…
Mas então, quais as razões que estão a impedir que, em Portugal, um dos países com mais História, esta verdade seja evidente e se imponha por si?
Primeiro, as razões internas e ligadas ao modo como os nossos historiadores funcionam. Vivem ainda nas suas torres de cristal, cada qual no seu feudo e, pior, ignorando tudo o que venha do feudo vizinho. A ética do investigador ainda funciona muito mal: cita-se quem nos cita e/ou quem pertence ao escol mediático. Não se enfrenta o senso comum e preferimos dizer que somos politólogos, pois se dissermos que somos historiadores podemos afastar público. Só divulgamos iniciativas e obras de instituições e investigadores já com nome na praça. Não convidamos quem é especialista numa área, mas quem pertence ao nosso círculo. Plagiamos descaradamente aqueles que sabemos não terem meios de nos denunciar judicialmente, etc., etc….
Em segundo lugar, mas não menos importante, os docentes de História do ensino básico e mesmo do secundário, passam a vida a fazer catarse, mas, no terreno, continuam a perpetuar a História cronológica, objetica, meramente factológica. Continua-se a premiar a memorização e o simples despejanço de acontecimentos. A ligação ao presente faz-se por modismos e não sistematicamente. Se vivemos uma época de crise capitalista, lá nos lembramos da crise de 1929, mas não usamos sistematicamente a História como meio de o aluno entender o presente. Criticamos as falhas dos manuais, mas continuamos a basearmo-nos neles acriticamente, sem qualquer esforço de atualização. A investigação passa-nos ao lado, com a boa desculpa de que ganhamos pouco e alguém tem que nos dar formação. No fundo, fazemos como os alunos e dizemos: a culpa não é minha! Continuamos a dizer que houve um Ultimato em 1890, que a Constituição de 1911 foi a 1ª a dividir os poderes, que fomos pioneiros na abolição da pena de morte e outras linearidades!
Depois, por interesse corporativo, mais concretamente para não perdermos alunos, continuamos a ceder ao facilitismo e não exigimos uma seleção à saída do 9º ano, pois há uns anos a esta parte, as turmas de Humanidades são o depósito dos alunos que nunca leram um livro e não dominam a língua materna. Conformamo-nos com esta situação, cheios de medo de ficarmos sem horas, em vez de contribuirmos para a subida de qualidade.
Mas, para mim, o passo mais urgente a dar seria: em vez de perdermos tempo com ações de formação inúteis, para dentro, ou seja, dirigidas a quem já sabe que a História é uma ciência e que ser ciência hoje já não é procurar a subjetiva objetividade, devíamos atacar para fora. Devíamos tomar a liderança e fazer formação dirigida aos colegas daquelas áreas que teimam em viver o conceito pré-einsteiniano de ciência e explicar-lhes que hoje a ciência procura a multiperspetiva, a explicação no sentido plural e interdisciplinar. Enquanto ficarmos a cantar o fado de que a História procura a visão multiperspetiva, os outros acharão e farão os alunos, os pais dos alunos, os explicadores dos alunos… achar que é a História que é diferente. Claro que cada ciência tem a sua especificidade, mas ai da ciência que não tiver dimensão histórica! Só quando todos afinarmos pela mesma bitola de um novo conceito de ciência, é que todas as ciências encontrarão condições de se sentirem em pé de igualdade. Portanto, deixemos de dizer que a História é isto ou aquilo e digamos que ser ciência hoje é saber que nunca se fará o traço por baixo da soma e assim, sentindo-nos todos no mesmo barco, talvez alguém repare na História, não como a ciência das perspetivas várias, mas como uma delas, logo, não menor, pois nenhuma é objetiva e nem seria desejável que o fosse. Somos sujeitos, logo, subjetivos. E a ciência não existe independentemente do cientista. É o cientista, logo, o sujeito que faz a ciência; qualquer ciência, não só a História.
Plutão não deixou objetivamente de ser planeta! Os cientistas é que ajustaram o conceito!...

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