domingo, 13 de junho de 2010

Uso e abuso da História

Feriado Municipal – Uma escolha incongruente!...

No passado dia 1 de Junho, Palmela comemorou mais um feriado municipal, o que é normal e salutar. O que talvez não seja congruente é comemorarmos o dia em que o rei D. Manuel I esvaziou o nosso Foral!
Sim, no dia 1 de Junho de 1512, D. Manuel I concedeu a Palmela (e a outras localidades) o chamado Foral Novo, documento lindíssimo na forma, mas com fraco conteúdo. Os Forais Novos foram um dos vários instrumentos de Centralização do Poder Régio, ou seja, retiraram aos Concelhos a sua real autonomia e transformaram-nos em meras listas de impostos a pagar ao poder central.
Assim, paradoxalmente, Palmela, querendo comemorar o poder concelhio, na verdade está a comemorar a desvalorização do poder local por um Estado cada vez mais centralizado e burocrático. Está na hora de reabrir o debate e alterar a data do nosso feriado, por motivos mais que óbvios.
Não gostaria de terminar esta minha reflexão sem sublinhar que a História, sendo uma ciência, deve ser dignificada como tal e, quando se pretende escolher datas significativas, deve consultar-se especialistas, sob pena de se cair em situações deploráveis.
E nem quero citar casos como o do mau gosto do Agrupamento de Escolas de Aveiro!...

Exposição na Cordoaria Nacional

A NÃO PERDER…
Sábado, dia 12 de Junho, pelas 10 horas, estive na Cordoaria Nacional (Lisboa), na inauguração de uma extraordinária exposição intitulada «Viva a República», onde a memória da Primeira República é visitada de um modo crítico e muito original, com especial destaque para os valores liberais e democráticos que ainda hoje nos inspiram. Tal como foi sublinhado pelo Primeiro-Ministro, esta exposição junta a competência científica, a estética e a modernidade. O Presidente da Comissão Nacional das Comemorações do Centenário da República, Artur Santos Silva, salientou a herança cívica da ideia republicana e a necessidade de se promover a reflexão e o debate sobre os grandes desafios que o mundo hoje enfrenta, o que só é possível através da valorização da ciência histórica.
O Comissário da exposição é o Historiador Luís Farinha e o Catálogo tem a colaboração de vários especialistas, tais como, Amadeu Carvalho Homem, António Reis, Ernesto Castro Leal, Fátima Patriarca, Fernando Catroga, Fernando Rosas, Medeiros Ferreira e Raquel Henriques da Silva. O Design Gráfico é da responsabilidade de Henrique Cayatte.
O horário é o seguinte: todos os dias, das 10 às 18 horas; a entrada é livre, mas as visitas guiadas exigem marcação prévia, por telefone (213628366) ou por mail (marcarvisitas@centenariorepublica.pt). O site oficial (http://www.centenariorepublica.pt/) dar-lhe-á mais pormenores.
Não queria deixar de lamentar o estado da nossa Comunicação Social, pois, pelo facto de, no mesmo dia se celebrar a nossa adesão à então CEE, apesar de lá estarem vários jornalistas e Tvs, nem uma nota surgiu sobre esta inauguração. Será que só interessam notícias mediáticas? A cultura não vende?
Só neste país é que se acha que a Cultura não interessa, mas a minha convicção é que será precisamente este país, com uma cultura ancestral e fronteiras estáveis que irá, no futuro, ter um grande papel na Europa, tal como já teve, aliás!...

Pestalozzi

Foi uma longa ausência, pois até me esqueço que tenho um blogue! Coisas de quem acha que isto tem algo de narcísico...
Mas agora apeteceu-me partilhar a minha experiência num projecto do Conselho da Europa com o nome do grande pedagogo contemporâneo de Rousseau, o suíço Pestalozzi. Não é por acaso que o CE intitula este projecto assim. Realmente, Pestalozzi criou uma pedagogia baseada em valores e assente na ideia de que o educador também deve ser educado.
Pois é, acabei de chegar de Cracóvia, onde participei no Módulo B. O Módulo A foi em Outubro passado, em Estrasburgo e ai os 27 participantes, de países tão diversos como o Azerbeijão, a Inglaterra, a Turquia ou Chipre, trocaram experiências e apresentaram materiais pedagógicos e estratégicas usadas nos sistemas de ensino dos seus países relativamente ao tema deste ano: A Prevenção de Crimes Contra a Humanidade. Depois, cada um gizou um ante-projecto que depois foi desenvolvendo e ajustando em função da sua aplicação e do debate gerado numa e-plataforma.
Eu divulguei a figura de Aristides de Sousa Mendes e salientei o facto de, contrariamente a Wallenberg e outros, este homem ter actuado sozinho e contrariando as ordens de Salazar, o que lhe valeu um futuro de miséria. O meu projecto foi, porém, sobre o Genocídio do Povo Maubere, o qual na altura não mereceu o interesse da comunidade internacional, de tal modo que, mesmo quando o Prémio Nobel foi atribuído aos timorenses, Ximenes Belo e Ramos Horta, na França, por exemplo, apenas uma rádio deu a notícia e deste modo: o Nobel da Paz foi atribuído a dois desconhecidos!
Bem, mas o tema aqui até nem é muito relevante, pois a preocupação é: como educar para a Prevenção de CCC (Crimes Contra a Humanidade)? Que competências devem ser desenvolvidas e como?
Disto falarei depois!
Até lá, vão opinando...