EXAMES E SABER...
Mal foram divulgados os resultados dos Exames Nacionais, quanta verborreia de baixo nível alimentada, infelizmente, pelos jornalistas!
Na SIC Notícias, a meio da tarde, deu-se largas às frustrações dos que se atiram aos docentes, por acharem que por mais um bocadinho, também eles tinham sido «ao menos professores»! Outros, formados e tudo, mas certamente daqueles formatadinhos e vomitadores de manuais, a dizerem asneiras como esta: tirei a minha filha do privado, infelizmente, por motivos financeiros, mas lamento, porque… (e aqui, pensei, se é engenheira, sabe que Saber é muito mais do que vomitar e que cabeça bem-cheia, não significa cabeça bem-feita…mas não, fez jus ao ditado antigo)… Bem, a senhora diz esta bacorada: porque no colégio os professores faziam tudo e agora a minha filha, felizmente manteve os cincos, mas tudo às suas custas, ela é que teve que se esforçar!
Isto é o máximo! E o jornalista não pegou nisto! Os jornalistas não têm obrigação de educar o povo, em vez de perpetuarem o politicamente correto?!
Outro telefonema significativo (pois a maioria era de reformados que mandam bocas de café, a que já nem neste país de tacanhos se pode dar crédito!), pois retrata o modo como ainda se pensa neste país de ainda arrivistas do ensino e da cultura…foi um estudante do superior, com 21 anos, portanto, seguramente daqueles que não tem dinheiro para o essencial, mas passeia-se com batina como qualquer arrivista…bem, o coitado lamentava que, por exemplo, os exames de Biologia não avaliem corretamente (entenda-se, memorização) e estejam contra o programa. Ora, nem os professores muitas vezes leram o programa! Será que ele quis dizer Índice dos manuais da Porto Editora, daqueles que depois são acompanhados com aqueles vómitos de ditos resumos da matéria que qualquer analfabeto podia decorar e despejar!!...
Enfim, quando é que as pessoas percebem que o dito Eduquês Cratiano não existe?! Nunca se pretendeu separar conteúdos de competências e competências não são skills, são muito mais. Formar alunos competentes e avaliá-los nessa base, significa tão só, verificar se sabem pensar, se sabem mobilizar os saberes já memorizados no ensino básico (por isso é que se chama básico!) e se os sabem aplicar em novas situações. Por isso é que alguns exames não avaliam (felizmente) o que o tal jovem diz ser o programa. E ainda bem. O que é uma pena é que ainda sejam só algumas disciplinas a fazê-lo!...
O ensino secundário seria um grande desperdício, se se limitasse a medir o que os meninos dos colégios e das turmas A dos liceus acumulam de saberes decorados e não apropriados!...
Quer esses alunos sigam já para o superior, quer não, deve ficar provado que não se limitaram a decorar saberes, muitas vezes já desatualizados. Eles têm que provar que desenvolveram competências e que sabem transformar informações em Conhecimento, ligando e religando saberes, adaptando-se a uma sociedade que já não exige apenas que saibam a lista telefónica de cor, aliás, já nem há listas telefónicas! … Ou que saibam os caminhos-de-ferro de cor, ou que despejem nomes de rios e de capitais… O Saber hoje exige muito mais do que aquilo que está ao alcance de um clicar!... Para isso, frequentaram o ensino básico e, supostamente, adquiriram esses dados objetivos.
Até já há estudos a comprovarem que os formatadinhos que ficam sempre bem nos rankings de trazer por casa, aqueles que têm boas notas com mais esforço da escola do que deles, individualmente… esses aguentam-se depois com muito mais dificuldade do que os alunos que desenvolveram mesmo competências!
Já Kant nos ensinou há muito que não há Saber, sem esforço individual e, no século XVIII, Luís António de Verney não se cansava de apelar a um Saber diferente… e nenhum deles viveu na Sociedade da Informação e do Conhecimento!
Mas Daniel Sampaio, que é deste tempo, não se cansa de lançar alertas. Deixo-vos aqui uma das melhores sínteses desta situação, caso não tenham dado por ela:
DANIEL SAMPAIO – PÚBLICO, REVISTA, 1-7-2012
PORQUE SIM, EXAMES
«Em julho terminam os exames, mas já começou a discussão sobre a sua importância ou oportunidade.
Há sempre duas posições: os eternos defensores de mais exames e os que contestam a sua existência generalizada. Os primeiros dizem que são úteis rituais de passagem, porque aumentam os conhecimentos e permitem avaliar com mais rigor quais são as boas escolas. Os segundos trazem a Finlândia, com as suas raras provas finais de avaliação e os seus excelentes resultados.
Eu acho esta discussão redutora. Para mim, existem coisas muito mais importantes do que os exames. Sou professor catedrático na Faculdade de Medicina de Lisboa, com a responsabilidade de duas disciplinas do curso médico. Vejo como os alunos se preocupam com a avaliação final e como, em regra, conseguem excelentes notas. Por vezes, contudo, fico com dúvidas: com tão boas classificações nas cadeiras básicas, por que razões não utilizam esses conhecimentos para compreender a clínica? E com 18 a Psiquiatria, o que irão fazer com noções básicas de Psiquiatria e saúde Mental, quando se cruzarem com a doença mental?
A escola deveria ter como preocupação decisiva a aprendizagem e não a classificação. Avaliar não é o mesmo que classificar, por isso a avaliação decisiva só poderá ser permanente e em todos os contextos. As metas de aprendizagem precisariam de ser definidas com todo o rigor e dirigidas para o aumento dos conhecimentos, a capacidade de resolução de problemas e o sentido crítico, de modo a que os alunos aumentassem a sua capacidade de compreensão do mundo. A escola forma cidadãos ou peritos em testes? Os professores ensinam para o exame, ou, ao lado dos pais, educam para o mundo?
Os exames são necessários e úteis. Sistematizam os conhecimentos, fomentam a auto-organização e a disciplina, permitem confirmar os melhores e dar oportunidade aos que não estudaram muito durante o ano. Contribuem para que os professores não se dispersem e se concentrem mais nos alunos com dificuldades.
O problema é se os exames se transformam num fim e não num meio. O risco é se tudo, na escola, passa a girar à volta das avaliações finais. Porque assim teremos professores obcecados com os rankings dos estabelecimentos de ensino, com os enunciados do ano passado e com as previsões do que poderá sair este ano.
Eu prefiro uma escola exigente, mas muito atenta a cada um dos seus alunos. Uma sala de aula que promova a capacidade de aprendizagem, faça a avaliação e registo do progresso das crianças e jovens e promova a adaptação a novas situações. Um professor que interiorize a necessidade de educar, porque um pai de hoje não pode fazer tudo. Um estabelecimento de ensino que tenha exames, claro, mas onde a avaliação final seja apenas mais um passo na consolidação dos conhecimentos. Uma escola onde o truque para o exame final, a batota ou o resumo apressado de um texto clássico não sejam os mais importantes.
O risco da excessiva valorização dos exames é grande. Na minha Faculdade, interrogamo-nos se estaremos a formar bons médicos: com bons conhecimentos, humanos, com compaixão pelos doentes e espírito de sacrifício. Convém que a escola básica/secundária pergunte: não será preciso ir mais além do que propor mais exames?»
sexta-feira, 13 de julho de 2012
terça-feira, 1 de maio de 2012
ATÉ SEMPRE, MIGUEL
O Miguel Portas esteve há precisamente um ano na minha escola a falar da sua experiência como Deputado Europeu e, como era seu hábito, revelou-se um espírito livre e o modo como interagiu com os alunos foi admirável. Até já os tratava pelo nome, como se os conhecesse há mais tempo. Respondeu às questões por eles colocadas com o maior à-vontade e com uma pedagógica simplicidade, até mesmo quando as respostas eram complexas.
Lembro-me que teve a coragem de dizer que tudo, mas tudo mesmo, tem sempre duas faces, que não existe nunca só uma verdade e esta mensagem, nos tempos que correm de ditadura ridícula das ditas ciências exatas, foi uma pedrada no charco. Comprovou ali, naquelas duas horas, que a Economia é uma ciência humana, o que os economistas mediáticos fazem questão de esquecer!...
Quando o Daniel lhe perguntou o que achava da polémica sobre o TGV, não teve uma resposta partidária, automática, de um não perentório. Mostrou várias perspetivas e deixou que cada um ficasse a refletir e chegasse à sua verdade. Ora, é isto que falta aos nossos políticos: serem livres e coerentes com um pensamento verdadeiramente crítico e aberto.
Também falou da caminhada para o Federalismo e da tão ainda longínqua Cidadania Europeia, a qual implica, evidentemente, perda de soberania. Qualquer outro, naquela conjuntura tão quente, seria tentado a puxar para o nacionalismo serôdio e ele não o fez!
À fatal pergunta sobre as diferenças com o seu irmão, respondeu a sorrir, com aquele sorriso só dele, puro, farto e natural: diria que ambos temos em comum a mesma sincera preocupação com a sociedade … mas cada um de nós acredita em soluções diferentes. É apenas isto e eu adoro o meu mano!
Foi mesmo assim … foi deste modo simples, tratando o irmão por mano que demonstrou toda a sua doçura e fez toda a gente perceber que as diferenças ideológicas são uma mais-valia e não um embaraço.
No final do encontro, apesar da sua doença, não se mostrou apressado e ficou calmamente a conversar com os que, como ele, não tinham pressa e a todos respondeu afavelmente e mostrou vontade de voltar. Aliás, prometeu voltar, mas, infelizmente, já não voltou!
Não voltou, mas estará sempre entre nós!
Nunca esqueceremos a sua humildade e a sua postura amiga, a sua garra, a sua capacidade de se dar, a sua grandiosidade, a sua diferença…
E não digo isto pelo facto de ter partido! Digo isto sempre nas minhas aulas. Sempre o parafraseei, quando abordo questões políticas e os meus alunos sabem bem disso! Foi uma sessão política, mas não foi partidária, como muitas vezes acontece. Só grandes homens conseguem tratar assim uma assembleia de jovens!
Obrigada, Miguel.
O Miguel Portas esteve há precisamente um ano na minha escola a falar da sua experiência como Deputado Europeu e, como era seu hábito, revelou-se um espírito livre e o modo como interagiu com os alunos foi admirável. Até já os tratava pelo nome, como se os conhecesse há mais tempo. Respondeu às questões por eles colocadas com o maior à-vontade e com uma pedagógica simplicidade, até mesmo quando as respostas eram complexas.
Lembro-me que teve a coragem de dizer que tudo, mas tudo mesmo, tem sempre duas faces, que não existe nunca só uma verdade e esta mensagem, nos tempos que correm de ditadura ridícula das ditas ciências exatas, foi uma pedrada no charco. Comprovou ali, naquelas duas horas, que a Economia é uma ciência humana, o que os economistas mediáticos fazem questão de esquecer!...
Quando o Daniel lhe perguntou o que achava da polémica sobre o TGV, não teve uma resposta partidária, automática, de um não perentório. Mostrou várias perspetivas e deixou que cada um ficasse a refletir e chegasse à sua verdade. Ora, é isto que falta aos nossos políticos: serem livres e coerentes com um pensamento verdadeiramente crítico e aberto.
Também falou da caminhada para o Federalismo e da tão ainda longínqua Cidadania Europeia, a qual implica, evidentemente, perda de soberania. Qualquer outro, naquela conjuntura tão quente, seria tentado a puxar para o nacionalismo serôdio e ele não o fez!
À fatal pergunta sobre as diferenças com o seu irmão, respondeu a sorrir, com aquele sorriso só dele, puro, farto e natural: diria que ambos temos em comum a mesma sincera preocupação com a sociedade … mas cada um de nós acredita em soluções diferentes. É apenas isto e eu adoro o meu mano!
Foi mesmo assim … foi deste modo simples, tratando o irmão por mano que demonstrou toda a sua doçura e fez toda a gente perceber que as diferenças ideológicas são uma mais-valia e não um embaraço.
No final do encontro, apesar da sua doença, não se mostrou apressado e ficou calmamente a conversar com os que, como ele, não tinham pressa e a todos respondeu afavelmente e mostrou vontade de voltar. Aliás, prometeu voltar, mas, infelizmente, já não voltou!
Não voltou, mas estará sempre entre nós!
Nunca esqueceremos a sua humildade e a sua postura amiga, a sua garra, a sua capacidade de se dar, a sua grandiosidade, a sua diferença…
E não digo isto pelo facto de ter partido! Digo isto sempre nas minhas aulas. Sempre o parafraseei, quando abordo questões políticas e os meus alunos sabem bem disso! Foi uma sessão política, mas não foi partidária, como muitas vezes acontece. Só grandes homens conseguem tratar assim uma assembleia de jovens!
Obrigada, Miguel.
sábado, 7 de abril de 2012
A Crise e a Formação de Professores
A notícia de que as ações de formação ministradas pelos centros de formação vão ser pagas (e bem pagas!) surpreendeu muita gente. É a crise, é a crise…dizem…
Mas as crises sempre foram um estímulo para grandes mudanças!
Tal como o mau hábito de tomar o pequeno-almoço fora de casa (que os portugueses adquiriram durante o tempo da abundância) pode ser agora banido, devido à crise, também as resistências às novas tecnologias podem, finalmente, ser rapidamente ultrapassadas, com o empurrãozinho da crise.
Até agora, falar em formação pela via virtual fazia sorrir os professores, até mesmo os mais modernos. Como se pode aprender com a mediação das TICs? Usar a moodle, por exemplo, só mesmo para acumular uma série de recursos que os alunos vão colhendo e nada mais. Que é isso de criar comunidades virtuais de aprendizagem? Não há como a interação face a face!
Pois é, mas agora que os centros vão cobrar na ordem dos 70 e 80 euros, mais o dinheiro da gasolina para as deslocações, bem, talvez esteja na hora de percebermos quão rídiculo é o nosso preconceito contra o e-learning e talvez se comece a perceber que já há estudos sobre o assunto. A pedagogia e a aprendizagem em plataformas digitais já se faz com uma base científica e está comprovado que a formação de professores também pode e deve ser feita por esta via. As mais-valias são imensas até pelo caráter assíncrono que permite a cada um gerir melhor o seu tempo e, comodamente, a partir do conforto do seu lar, interagir ativamente com os seus pares, usando uma diversidade imensa de ferramentas e acedendo a recursos que, de outro modo, dificilmente teria oportunidade de digerir.
O excelente estudo, recentemente publicado pela De Facto Editores, coordenado pelos Professores Doutores Angélica Monteiro, José António Moreira e Ana Cristina Almeida, sob o título «Educação Online, Pedagogia e aprendizagem em plataformas digitais», fornece uma série de pistas para todos aqueles que, aproveitando a conjuntura de crise, pretendam entender as potencialidades da educação online, superando aquela fase arrivista da tecnologia pela tecnologia.
Deixo-vos um desafio que Óscar Mealha (Professor do Departamento de Arte e Comunicação da Universidade de Aveiro) lança no Prefácio da obra: «aproveito este momento para também desafiar os colegas do ensino não superior a testarem muitas das abordagens deste livro. (…) para qualquer professor que tenha a genuína intenção de aumentar a eficiência da aprendizagem dos seus estudantes, com recurso a contextos de educação mediados tecnologicamente (…) Um livro em que decididamente a tecnologia só aparece para se subordinar a servir os propósitos do ser humano, como deve ser.»
Portanto, a crise é o pretexto ideal para nos modernizarmos e ultrapassarmos a fase maniqueísta relativamente às TICs: ou a usamos como panaceia, confundindo meios com fins, ou a rejeitamos de forma linear e acrítica!...
Nenhuma destas vias é aceitável neste início do século XXI!...
Da corrida obrigatória ao Quadros Interativos, passemos à descoberta das potencialidades da verdadeira aprendizagem colaborativa. Repensemos a aprendizagem em plataformas digitais.
Mas as crises sempre foram um estímulo para grandes mudanças!
Tal como o mau hábito de tomar o pequeno-almoço fora de casa (que os portugueses adquiriram durante o tempo da abundância) pode ser agora banido, devido à crise, também as resistências às novas tecnologias podem, finalmente, ser rapidamente ultrapassadas, com o empurrãozinho da crise.
Até agora, falar em formação pela via virtual fazia sorrir os professores, até mesmo os mais modernos. Como se pode aprender com a mediação das TICs? Usar a moodle, por exemplo, só mesmo para acumular uma série de recursos que os alunos vão colhendo e nada mais. Que é isso de criar comunidades virtuais de aprendizagem? Não há como a interação face a face!
Pois é, mas agora que os centros vão cobrar na ordem dos 70 e 80 euros, mais o dinheiro da gasolina para as deslocações, bem, talvez esteja na hora de percebermos quão rídiculo é o nosso preconceito contra o e-learning e talvez se comece a perceber que já há estudos sobre o assunto. A pedagogia e a aprendizagem em plataformas digitais já se faz com uma base científica e está comprovado que a formação de professores também pode e deve ser feita por esta via. As mais-valias são imensas até pelo caráter assíncrono que permite a cada um gerir melhor o seu tempo e, comodamente, a partir do conforto do seu lar, interagir ativamente com os seus pares, usando uma diversidade imensa de ferramentas e acedendo a recursos que, de outro modo, dificilmente teria oportunidade de digerir.
O excelente estudo, recentemente publicado pela De Facto Editores, coordenado pelos Professores Doutores Angélica Monteiro, José António Moreira e Ana Cristina Almeida, sob o título «Educação Online, Pedagogia e aprendizagem em plataformas digitais», fornece uma série de pistas para todos aqueles que, aproveitando a conjuntura de crise, pretendam entender as potencialidades da educação online, superando aquela fase arrivista da tecnologia pela tecnologia.
Deixo-vos um desafio que Óscar Mealha (Professor do Departamento de Arte e Comunicação da Universidade de Aveiro) lança no Prefácio da obra: «aproveito este momento para também desafiar os colegas do ensino não superior a testarem muitas das abordagens deste livro. (…) para qualquer professor que tenha a genuína intenção de aumentar a eficiência da aprendizagem dos seus estudantes, com recurso a contextos de educação mediados tecnologicamente (…) Um livro em que decididamente a tecnologia só aparece para se subordinar a servir os propósitos do ser humano, como deve ser.»
Portanto, a crise é o pretexto ideal para nos modernizarmos e ultrapassarmos a fase maniqueísta relativamente às TICs: ou a usamos como panaceia, confundindo meios com fins, ou a rejeitamos de forma linear e acrítica!...
Nenhuma destas vias é aceitável neste início do século XXI!...
Da corrida obrigatória ao Quadros Interativos, passemos à descoberta das potencialidades da verdadeira aprendizagem colaborativa. Repensemos a aprendizagem em plataformas digitais.
domingo, 1 de abril de 2012
Autorretrato de Professora - JL de 10-1-2012 - Odília Gontardo Freitas - Provocar Mudanças
Nasci na Madeira, no ano de 1958, quando o regime salazarista começava a tremer. O tempo e o espaço não determinam, mas moldam!
Desde muito tenra idade persegui a utopia de querer mudar o mundo, de acabar com a injustiça. Queria seguir Direito, mas cedo percebi que esse não era o meu caminho. Como tive a felicidade nascer numa família numerosa, comecei a brincar às escolinhas lá em casa, tendo os meus irmãos como alunos. Percebi que ia ser professora, mas ainda não sabia que seguiria História. Essa paixão começou a nascer no Externato de S. Bento, na Ribeira Brava, quando tive o Professor Sousa e Freitas, um verdadeiro mestre. Com ele a História parecia fácil e divertida, completamente diferente daquilo que tinha sido até então. Comecei a ver o lado útil da História e a perceber as suas potencialidades formativas. Ainda não lia Marc Bloch, mas já sentia que não se podia entender o presente, sem o relacionar com o passado. Depois, já no Liceu Jaime Moniz, convivi com excelentes pedagogos, como o saudoso Horácio Bento de Gouveia, grande escritor e crítico do regime e a recentemente falecida, Maria Aurora Carvalho Homem. Tive sorte. Aprendi com eles que a Escola deve ser um espaço de cidadania.
Quando acabei o Secundário, em 1975, cumpri o Serviço Cívico Estudantil no Arquivo Distrital do Funchal, cujo diretor era António Aragão, poeta, pintor, historiador, homem polémico, irrequieto, inconformado. O nosso convívio de cerca de um ano deixou-me marcas e consolidou-me a paixão pela História.
Licenciei-me em História pela Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa. Naquela altura os cursos tinham dois ciclos e apostava-se forte na componente científica. Seguia-se a filosofia de ensinar a pescar, em vez de dar o peixe, o que hoje, infelizmente, está em regressão. Tive vários Professores que me marcaram, como Jorge Custódio (Introdução à História: Metodologia e Crítica), Maria do Rosário Themudo Barata (História Moderna Geral), José Manuel Sobral (História Contemporânea de Portugal) e António José Saraiva (Cultura Portuguesa).
Iniciei a minha carreira como professora, no ano de 1981. Casei e tive dois filhos. Passei por várias escolas e fixei-me na Escola Secundária de Palmela há vinte e quatro anos. Já tenho como alunos, os filhos de ex-alunos.
Nestas três décadas de docência nunca me arrependi da escolha que fiz, nem sequer nesta conjuntura difícil, em que a profissão se descredibiliza constantemente. Os alunos dão-me força para prosseguir e delicio-me a vê-los crescer. Sinto que educar é provocar mudança e, modéstia aparte, sei que quando pego numa turma do 10º ano e fico com ela os três anos do Secundário, chegamos ao fim todos diferentes e todos mais ricos. Não tenho no currículo grandes projetos, mas tento atuar como o colibri, que, com o seu minúsculo bico, nunca perde a esperança de contribuir para apagar grandes fogos! A minha pedagogia passa por acreditar que é sempre possível ajudar cada aluno a tirar de dentro de si as virtudes que nem desconfia que tem e levar cada um a dar o seu máximo. Sei que sou privilegiada por lidar praticamente só com alunos que já concluíram o ensino Básico, mas também é verdade que muitos dos que se inscrevem em Humanidades são aqueles que andam a fugir das outras áreas, ditas mais exigentes. Mesmo não sendo verdade, funciona como tal, devido à pressão social e ao discurso do senso comum, o que dificulta muito a motivação. O que mais me desgosta como professora é ouvir alguns colegas (felizmente, já poucos!) dizerem que só sabem ensinar alunos motivados. É como se um médico só se dedicasse aos sãos!
Acredito que ensinar requer arte, mas também técnica e procurei mais formação nesta matéria. Assim, frequentei o Mestrado em Supervisão Pedagógica na Universidade Aberta e descobri uma imensidão de ferramentas que me têm ajudado muito a melhorar as minhas práticas. Nesta Universidade tenho também exercido Tutoria on-line em Unidades Curriculares como Ética e Educação e Educação e Sociedade, o que me tem proporcionado uma troca de saberes e um contato salutar com professores de todas as áreas científicas e geográficas. Esta riquíssima experiência fez-me perceber que na sociedade da informação e do conhecimento, qualquer nível de ensino terá que ter também uma componente virtual, caso contrário nunca será possível desenvolver uma aprendizagem sólida e atualizada.
Reproduzir saberes feitos, prontos a servir, não prepara ninguém para a vida. É preciso que a Escola se assuma como motor de mudança e conquiste autonomia para gerir currículo, em vez de prescrever currículo, apostando no aprofundamento dos vários níveis de Cidadania. Neste sentido, tenho desenvolvido pequenos projetos de pesquisa em torno da História Local e sendo Palmela uma Cidade Educadora, o terreno torna-se ainda mais aliciante. Penso que a investigação não é apanágio de alguns e, se for realizada com honestidade, pode e deve ser praticada ao nível das escolas secundárias.
Implemento nas minhas turmas o Portefólio Criativo e Reflexivo, em que cada aluno vai recolhendo dados sobre aspetos que, devido à pressão do Programa, não podemos desenvolver no dia-a-dia; no final de cada período, organiza-se uma série de sessões destinadas a avaliar os resultados das pesquisas e das reflexões individuais. É muito gratificante ver que, a pretexto do Portefólio, os alunos começam a interessar-se por todo o género de notícias da atualidade, entrando numa dinâmica de pesquisa e partilha, interiorizando um novo conceito de História e percebendo a sua utilidade. Levo os meus alunos a colóquios universitários e eles percebem que a investigação não pára e que, como qualquer ciência, a História está sempre em construção.
No âmbito de desafios lançados pela Associação de Professores de História, envolvi os meus alunos em dois projetos que foram premiados: um sobre Damião de Góis e outro sobre o Vinte e Cinco de Abril.
Há dois anos participei no Projeto Pestalozzi, uma iniciativa do Conselho da Europa vocacionada para os Direitos Humanos. Desenvolvi um trabalho sobre os crimes praticados pela Indonésia, quando da invasão de Timor-Leste e apresentei-o em Cracóvia. Perante um conjunto de professores de História dos mais variados países pertencentes ao Conselho da Europa, mostrei que a apatia da comunidade internacional e os jogos de interesses podem incentivar genocídios e que só uma forte opinião pública internacional pode evitá-los, defendendo que a Educação Histórica pode ter um papel crucial na prevenção de Crimes Contra a Humanidade.
Colaborei, com três entradas, no Dicionário de Educadores Portugueses, dirigido pelo Professor António Nóvoa, trabalho de referência que reúne 900 biografias de homens e mulheres que se dedicaram à educação e ao ensino nos séculos XIX e XX e que permite novas leituras da história do ensino e da educação em Portugal.
Atualmente, na minha escola, sou representante do Grupo de História e coordeno o Projeto Parlamento dos Jovens, da responsabilidade da Assembleia da República e que pretende aprofundar cidadania e contribuir para uma nova visão da Política.
Também coordeno o Gabinete de Intervenção Disciplinar, criado recentemente com o objetivo de dar resposta aos crescentes problemas de indisciplina que têm surgido, à medida que a escola se democratiza.
Sou formadora acreditada pelo CCPFC, mas infelizmente tenho exercido muito pouco esta atividade. Apercebi-me que ainda estamos na fase traumática de identificar formação com avaliação e avaliação com classificação. Por outro lado, a onda tecnocrática dos famosos Quadros Interativos, ao invadir os centros de formação, limitou o espaço para outros territórios, porventura mais interessantes. Assim, vou promovendo uns Workshops de vez em quando, vocacionados para quem não anda à caça de créditos, mas simplesmente acredita que sem reflexão e partilha, não há uma real progressão.
Penso que ser professor hoje, numa sociedade cada vez mais global, exige uma postura constantemente reflexiva e só um trabalho verdadeiramente colaborativo pode ajudar a conjugar as várias dimensões que a profissão exige: ética, científica e pedagógica. O saber hoje exige muito mais do que debitar. Formar cidadãos aptos é muito mais do que preparar alunos para exames. Preparar para a vida ativa é sobretudo preparar jovens que saibam ligar e religar saberes, que saibam transferir conhecimentos e que não se deixem esmagar pela torrente informativa que carateriza o século XXI.
Desde muito tenra idade persegui a utopia de querer mudar o mundo, de acabar com a injustiça. Queria seguir Direito, mas cedo percebi que esse não era o meu caminho. Como tive a felicidade nascer numa família numerosa, comecei a brincar às escolinhas lá em casa, tendo os meus irmãos como alunos. Percebi que ia ser professora, mas ainda não sabia que seguiria História. Essa paixão começou a nascer no Externato de S. Bento, na Ribeira Brava, quando tive o Professor Sousa e Freitas, um verdadeiro mestre. Com ele a História parecia fácil e divertida, completamente diferente daquilo que tinha sido até então. Comecei a ver o lado útil da História e a perceber as suas potencialidades formativas. Ainda não lia Marc Bloch, mas já sentia que não se podia entender o presente, sem o relacionar com o passado. Depois, já no Liceu Jaime Moniz, convivi com excelentes pedagogos, como o saudoso Horácio Bento de Gouveia, grande escritor e crítico do regime e a recentemente falecida, Maria Aurora Carvalho Homem. Tive sorte. Aprendi com eles que a Escola deve ser um espaço de cidadania.
Quando acabei o Secundário, em 1975, cumpri o Serviço Cívico Estudantil no Arquivo Distrital do Funchal, cujo diretor era António Aragão, poeta, pintor, historiador, homem polémico, irrequieto, inconformado. O nosso convívio de cerca de um ano deixou-me marcas e consolidou-me a paixão pela História.
Licenciei-me em História pela Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa. Naquela altura os cursos tinham dois ciclos e apostava-se forte na componente científica. Seguia-se a filosofia de ensinar a pescar, em vez de dar o peixe, o que hoje, infelizmente, está em regressão. Tive vários Professores que me marcaram, como Jorge Custódio (Introdução à História: Metodologia e Crítica), Maria do Rosário Themudo Barata (História Moderna Geral), José Manuel Sobral (História Contemporânea de Portugal) e António José Saraiva (Cultura Portuguesa).
Iniciei a minha carreira como professora, no ano de 1981. Casei e tive dois filhos. Passei por várias escolas e fixei-me na Escola Secundária de Palmela há vinte e quatro anos. Já tenho como alunos, os filhos de ex-alunos.
Nestas três décadas de docência nunca me arrependi da escolha que fiz, nem sequer nesta conjuntura difícil, em que a profissão se descredibiliza constantemente. Os alunos dão-me força para prosseguir e delicio-me a vê-los crescer. Sinto que educar é provocar mudança e, modéstia aparte, sei que quando pego numa turma do 10º ano e fico com ela os três anos do Secundário, chegamos ao fim todos diferentes e todos mais ricos. Não tenho no currículo grandes projetos, mas tento atuar como o colibri, que, com o seu minúsculo bico, nunca perde a esperança de contribuir para apagar grandes fogos! A minha pedagogia passa por acreditar que é sempre possível ajudar cada aluno a tirar de dentro de si as virtudes que nem desconfia que tem e levar cada um a dar o seu máximo. Sei que sou privilegiada por lidar praticamente só com alunos que já concluíram o ensino Básico, mas também é verdade que muitos dos que se inscrevem em Humanidades são aqueles que andam a fugir das outras áreas, ditas mais exigentes. Mesmo não sendo verdade, funciona como tal, devido à pressão social e ao discurso do senso comum, o que dificulta muito a motivação. O que mais me desgosta como professora é ouvir alguns colegas (felizmente, já poucos!) dizerem que só sabem ensinar alunos motivados. É como se um médico só se dedicasse aos sãos!
Acredito que ensinar requer arte, mas também técnica e procurei mais formação nesta matéria. Assim, frequentei o Mestrado em Supervisão Pedagógica na Universidade Aberta e descobri uma imensidão de ferramentas que me têm ajudado muito a melhorar as minhas práticas. Nesta Universidade tenho também exercido Tutoria on-line em Unidades Curriculares como Ética e Educação e Educação e Sociedade, o que me tem proporcionado uma troca de saberes e um contato salutar com professores de todas as áreas científicas e geográficas. Esta riquíssima experiência fez-me perceber que na sociedade da informação e do conhecimento, qualquer nível de ensino terá que ter também uma componente virtual, caso contrário nunca será possível desenvolver uma aprendizagem sólida e atualizada.
Reproduzir saberes feitos, prontos a servir, não prepara ninguém para a vida. É preciso que a Escola se assuma como motor de mudança e conquiste autonomia para gerir currículo, em vez de prescrever currículo, apostando no aprofundamento dos vários níveis de Cidadania. Neste sentido, tenho desenvolvido pequenos projetos de pesquisa em torno da História Local e sendo Palmela uma Cidade Educadora, o terreno torna-se ainda mais aliciante. Penso que a investigação não é apanágio de alguns e, se for realizada com honestidade, pode e deve ser praticada ao nível das escolas secundárias.
Implemento nas minhas turmas o Portefólio Criativo e Reflexivo, em que cada aluno vai recolhendo dados sobre aspetos que, devido à pressão do Programa, não podemos desenvolver no dia-a-dia; no final de cada período, organiza-se uma série de sessões destinadas a avaliar os resultados das pesquisas e das reflexões individuais. É muito gratificante ver que, a pretexto do Portefólio, os alunos começam a interessar-se por todo o género de notícias da atualidade, entrando numa dinâmica de pesquisa e partilha, interiorizando um novo conceito de História e percebendo a sua utilidade. Levo os meus alunos a colóquios universitários e eles percebem que a investigação não pára e que, como qualquer ciência, a História está sempre em construção.
No âmbito de desafios lançados pela Associação de Professores de História, envolvi os meus alunos em dois projetos que foram premiados: um sobre Damião de Góis e outro sobre o Vinte e Cinco de Abril.
Há dois anos participei no Projeto Pestalozzi, uma iniciativa do Conselho da Europa vocacionada para os Direitos Humanos. Desenvolvi um trabalho sobre os crimes praticados pela Indonésia, quando da invasão de Timor-Leste e apresentei-o em Cracóvia. Perante um conjunto de professores de História dos mais variados países pertencentes ao Conselho da Europa, mostrei que a apatia da comunidade internacional e os jogos de interesses podem incentivar genocídios e que só uma forte opinião pública internacional pode evitá-los, defendendo que a Educação Histórica pode ter um papel crucial na prevenção de Crimes Contra a Humanidade.
Colaborei, com três entradas, no Dicionário de Educadores Portugueses, dirigido pelo Professor António Nóvoa, trabalho de referência que reúne 900 biografias de homens e mulheres que se dedicaram à educação e ao ensino nos séculos XIX e XX e que permite novas leituras da história do ensino e da educação em Portugal.
Atualmente, na minha escola, sou representante do Grupo de História e coordeno o Projeto Parlamento dos Jovens, da responsabilidade da Assembleia da República e que pretende aprofundar cidadania e contribuir para uma nova visão da Política.
Também coordeno o Gabinete de Intervenção Disciplinar, criado recentemente com o objetivo de dar resposta aos crescentes problemas de indisciplina que têm surgido, à medida que a escola se democratiza.
Sou formadora acreditada pelo CCPFC, mas infelizmente tenho exercido muito pouco esta atividade. Apercebi-me que ainda estamos na fase traumática de identificar formação com avaliação e avaliação com classificação. Por outro lado, a onda tecnocrática dos famosos Quadros Interativos, ao invadir os centros de formação, limitou o espaço para outros territórios, porventura mais interessantes. Assim, vou promovendo uns Workshops de vez em quando, vocacionados para quem não anda à caça de créditos, mas simplesmente acredita que sem reflexão e partilha, não há uma real progressão.
Penso que ser professor hoje, numa sociedade cada vez mais global, exige uma postura constantemente reflexiva e só um trabalho verdadeiramente colaborativo pode ajudar a conjugar as várias dimensões que a profissão exige: ética, científica e pedagógica. O saber hoje exige muito mais do que debitar. Formar cidadãos aptos é muito mais do que preparar alunos para exames. Preparar para a vida ativa é sobretudo preparar jovens que saibam ligar e religar saberes, que saibam transferir conhecimentos e que não se deixem esmagar pela torrente informativa que carateriza o século XXI.
domingo, 25 de março de 2012
A ESCOLA PÚBLICA ESTÁ BEM E RECOMENDA-SE…
Quem disse que a Escola Pública anda mal?
Quem disse que os nossos jovens não se interessam por Política/Cidadania?
Pois é … mais uma vez a Escola Secundária de Palmela brilhou na Sessão Distrital do Parlamento dos Jovens!...
Realizou-se, no passado dia 13 de Fevereiro, no Auditório da Escola Escola Básica 2,3 com Secundário da Bela Vista (Setúbal), mais uma Sessão Distrital do Parlamento dos Jovens, cujo tema foi: Redes Sociais: Participação e Cidadania.
Foi gratificante ver como centenas de jovens do nosso Distrito se empolgaram e, com muita dignidade defenderam os Projetos de Recomendação das respetivas escolas, para depois, com a mesma dignidade, serem capazes de eleger as medidas que, independentemente da origem, seriam as que melhor qualidade e consenso reuniam para representarem todo o Distrito.
Neste contexto de exercício democrático, os jovens elegeram a Ana Sofia Teixeira, aluna do 11ºA da Escola Secundária de Palmela, para porta-voz dos Deputados de Setúbal na Sessão Nacional que irá decorrer nos dias 28 e 29 de Maio, na Assembleia da República. A Mónica Pereira, aluna do 12º E da nossa escola irá acompanhá-la, assim como a Patrícia Marinheiro, do 11ºA e o Daniel Anselmo, do 12ºE. Este será o nosso Repórter, concorrente ao Prémio Reportagem, pela segunda vez.
Agregado a este concurso, realiza-se também o Euroscola e, pela terceira vez consecutiva, é também a Escola Secundária de Palmela que irá representar o Distrito neste concurso, na expetativa de poder ir a Estrasburgo, no próximo ano.
Na sua apresentação, a Ana Sofia e a Patrícia defenderam a ideia de que as Redes Sociais poderão ser as Novas Caravelas do século XXI e até criaram um poema nesse sentido:
Redes Sociais
Não é dependência , é informação
Todos os dias , diariamente
A qualquer hora há uma ligação
Quem quer que seja o utilizador
É o combate à discriminação
Não interessa a religião ou a cor
Não há sequer hesitação
Cidadania e educação
Com cuidado e preocupação
Saber bem utilizar
Não gera desilusão
O ser humano no passado
Nem tinha televisão
Agora em todo o lado
Tem à internet ligação
Passam de 8 para 81
As redes sociais são as
Caravelas do século 21
Quem disse que os nossos jovens não se interessam por Política/Cidadania?
Pois é … mais uma vez a Escola Secundária de Palmela brilhou na Sessão Distrital do Parlamento dos Jovens!...
Realizou-se, no passado dia 13 de Fevereiro, no Auditório da Escola Escola Básica 2,3 com Secundário da Bela Vista (Setúbal), mais uma Sessão Distrital do Parlamento dos Jovens, cujo tema foi: Redes Sociais: Participação e Cidadania.
Foi gratificante ver como centenas de jovens do nosso Distrito se empolgaram e, com muita dignidade defenderam os Projetos de Recomendação das respetivas escolas, para depois, com a mesma dignidade, serem capazes de eleger as medidas que, independentemente da origem, seriam as que melhor qualidade e consenso reuniam para representarem todo o Distrito.
Neste contexto de exercício democrático, os jovens elegeram a Ana Sofia Teixeira, aluna do 11ºA da Escola Secundária de Palmela, para porta-voz dos Deputados de Setúbal na Sessão Nacional que irá decorrer nos dias 28 e 29 de Maio, na Assembleia da República. A Mónica Pereira, aluna do 12º E da nossa escola irá acompanhá-la, assim como a Patrícia Marinheiro, do 11ºA e o Daniel Anselmo, do 12ºE. Este será o nosso Repórter, concorrente ao Prémio Reportagem, pela segunda vez.
Agregado a este concurso, realiza-se também o Euroscola e, pela terceira vez consecutiva, é também a Escola Secundária de Palmela que irá representar o Distrito neste concurso, na expetativa de poder ir a Estrasburgo, no próximo ano.
Na sua apresentação, a Ana Sofia e a Patrícia defenderam a ideia de que as Redes Sociais poderão ser as Novas Caravelas do século XXI e até criaram um poema nesse sentido:
Redes Sociais
Não é dependência , é informação
Todos os dias , diariamente
A qualquer hora há uma ligação
Quem quer que seja o utilizador
É o combate à discriminação
Não interessa a religião ou a cor
Não há sequer hesitação
Cidadania e educação
Com cuidado e preocupação
Saber bem utilizar
Não gera desilusão
O ser humano no passado
Nem tinha televisão
Agora em todo o lado
Tem à internet ligação
Passam de 8 para 81
As redes sociais são as
Caravelas do século 21
A HISTÓRIA É IMPORTANTE
A HISTÓRIA É IMPORTANTE
Sim, a História é importante e nem vale a pena dizer porquê…
Mas então, quais as razões que estão a impedir que, em Portugal, um dos países com mais História, esta verdade seja evidente e se imponha por si?
Primeiro, as razões internas e ligadas ao modo como os nossos historiadores funcionam. Vivem ainda nas suas torres de cristal, cada qual no seu feudo e, pior, ignorando tudo o que venha do feudo vizinho. A ética do investigador ainda funciona muito mal: cita-se quem nos cita e/ou quem pertence ao escol mediático. Não se enfrenta o senso comum e preferimos dizer que somos politólogos, pois se dissermos que somos historiadores podemos afastar público. Só divulgamos iniciativas e obras de instituições e investigadores já com nome na praça. Não convidamos quem é especialista numa área, mas quem pertence ao nosso círculo. Plagiamos descaradamente aqueles que sabemos não terem meios de nos denunciar judicialmente, etc., etc….
Em segundo lugar, mas não menos importante, os docentes de História do ensino básico e mesmo do secundário, passam a vida a fazer catarse, mas, no terreno, continuam a perpetuar a História cronológica, objetica, meramente factológica. Continua-se a premiar a memorização e o simples despejanço de acontecimentos. A ligação ao presente faz-se por modismos e não sistematicamente. Se vivemos uma época de crise capitalista, lá nos lembramos da crise de 1929, mas não usamos sistematicamente a História como meio de o aluno entender o presente. Criticamos as falhas dos manuais, mas continuamos a basearmo-nos neles acriticamente, sem qualquer esforço de atualização. A investigação passa-nos ao lado, com a boa desculpa de que ganhamos pouco e alguém tem que nos dar formação. No fundo, fazemos como os alunos e dizemos: a culpa não é minha! Continuamos a dizer que houve um Ultimato em 1890, que a Constituição de 1911 foi a 1ª a dividir os poderes, que fomos pioneiros na abolição da pena de morte e outras linearidades!
Depois, por interesse corporativo, mais concretamente para não perdermos alunos, continuamos a ceder ao facilitismo e não exigimos uma seleção à saída do 9º ano, pois há uns anos a esta parte, as turmas de Humanidades são o depósito dos alunos que nunca leram um livro e não dominam a língua materna. Conformamo-nos com esta situação, cheios de medo de ficarmos sem horas, em vez de contribuirmos para a subida de qualidade.
Mas, para mim, o passo mais urgente a dar seria: em vez de perdermos tempo com ações de formação inúteis, para dentro, ou seja, dirigidas a quem já sabe que a História é uma ciência e que ser ciência hoje já não é procurar a subjetiva objetividade, devíamos atacar para fora. Devíamos tomar a liderança e fazer formação dirigida aos colegas daquelas áreas que teimam em viver o conceito pré-einsteiniano de ciência e explicar-lhes que hoje a ciência procura a multiperspetiva, a explicação no sentido plural e interdisciplinar. Enquanto ficarmos a cantar o fado de que a História procura a visão multiperspetiva, os outros acharão e farão os alunos, os pais dos alunos, os explicadores dos alunos… achar que é a História que é diferente. Claro que cada ciência tem a sua especificidade, mas ai da ciência que não tiver dimensão histórica! Só quando todos afinarmos pela mesma bitola de um novo conceito de ciência, é que todas as ciências encontrarão condições de se sentirem em pé de igualdade. Portanto, deixemos de dizer que a História é isto ou aquilo e digamos que ser ciência hoje é saber que nunca se fará o traço por baixo da soma e assim, sentindo-nos todos no mesmo barco, talvez alguém repare na História, não como a ciência das perspetivas várias, mas como uma delas, logo, não menor, pois nenhuma é objetiva e nem seria desejável que o fosse. Somos sujeitos, logo, subjetivos. E a ciência não existe independentemente do cientista. É o cientista, logo, o sujeito que faz a ciência; qualquer ciência, não só a História.
Plutão não deixou objetivamente de ser planeta! Os cientistas é que ajustaram o conceito!...
Sim, a História é importante e nem vale a pena dizer porquê…
Mas então, quais as razões que estão a impedir que, em Portugal, um dos países com mais História, esta verdade seja evidente e se imponha por si?
Primeiro, as razões internas e ligadas ao modo como os nossos historiadores funcionam. Vivem ainda nas suas torres de cristal, cada qual no seu feudo e, pior, ignorando tudo o que venha do feudo vizinho. A ética do investigador ainda funciona muito mal: cita-se quem nos cita e/ou quem pertence ao escol mediático. Não se enfrenta o senso comum e preferimos dizer que somos politólogos, pois se dissermos que somos historiadores podemos afastar público. Só divulgamos iniciativas e obras de instituições e investigadores já com nome na praça. Não convidamos quem é especialista numa área, mas quem pertence ao nosso círculo. Plagiamos descaradamente aqueles que sabemos não terem meios de nos denunciar judicialmente, etc., etc….
Em segundo lugar, mas não menos importante, os docentes de História do ensino básico e mesmo do secundário, passam a vida a fazer catarse, mas, no terreno, continuam a perpetuar a História cronológica, objetica, meramente factológica. Continua-se a premiar a memorização e o simples despejanço de acontecimentos. A ligação ao presente faz-se por modismos e não sistematicamente. Se vivemos uma época de crise capitalista, lá nos lembramos da crise de 1929, mas não usamos sistematicamente a História como meio de o aluno entender o presente. Criticamos as falhas dos manuais, mas continuamos a basearmo-nos neles acriticamente, sem qualquer esforço de atualização. A investigação passa-nos ao lado, com a boa desculpa de que ganhamos pouco e alguém tem que nos dar formação. No fundo, fazemos como os alunos e dizemos: a culpa não é minha! Continuamos a dizer que houve um Ultimato em 1890, que a Constituição de 1911 foi a 1ª a dividir os poderes, que fomos pioneiros na abolição da pena de morte e outras linearidades!
Depois, por interesse corporativo, mais concretamente para não perdermos alunos, continuamos a ceder ao facilitismo e não exigimos uma seleção à saída do 9º ano, pois há uns anos a esta parte, as turmas de Humanidades são o depósito dos alunos que nunca leram um livro e não dominam a língua materna. Conformamo-nos com esta situação, cheios de medo de ficarmos sem horas, em vez de contribuirmos para a subida de qualidade.
Mas, para mim, o passo mais urgente a dar seria: em vez de perdermos tempo com ações de formação inúteis, para dentro, ou seja, dirigidas a quem já sabe que a História é uma ciência e que ser ciência hoje já não é procurar a subjetiva objetividade, devíamos atacar para fora. Devíamos tomar a liderança e fazer formação dirigida aos colegas daquelas áreas que teimam em viver o conceito pré-einsteiniano de ciência e explicar-lhes que hoje a ciência procura a multiperspetiva, a explicação no sentido plural e interdisciplinar. Enquanto ficarmos a cantar o fado de que a História procura a visão multiperspetiva, os outros acharão e farão os alunos, os pais dos alunos, os explicadores dos alunos… achar que é a História que é diferente. Claro que cada ciência tem a sua especificidade, mas ai da ciência que não tiver dimensão histórica! Só quando todos afinarmos pela mesma bitola de um novo conceito de ciência, é que todas as ciências encontrarão condições de se sentirem em pé de igualdade. Portanto, deixemos de dizer que a História é isto ou aquilo e digamos que ser ciência hoje é saber que nunca se fará o traço por baixo da soma e assim, sentindo-nos todos no mesmo barco, talvez alguém repare na História, não como a ciência das perspetivas várias, mas como uma delas, logo, não menor, pois nenhuma é objetiva e nem seria desejável que o fosse. Somos sujeitos, logo, subjetivos. E a ciência não existe independentemente do cientista. É o cientista, logo, o sujeito que faz a ciência; qualquer ciência, não só a História.
Plutão não deixou objetivamente de ser planeta! Os cientistas é que ajustaram o conceito!...
sexta-feira, 11 de março de 2011
Parabéns aos alunos envolvido no Parlamento dos Jovens
Parabéns a todos os alunos que se envolveram no Projecto Parlamento dos Jovens, mas muito especialmente aos que vão representar a nossa escola (Secundária de Palmela) e o nosso distrito (Setúbal):
A Carolina Mateus e a Ana Sofia Teixeira serão as nossas Deputadas na Sessão Nacional que decorrerá nos dias 30 e 31 de Maio de 2011, na Assembleia da República; A Marisa Cidade e a Filomena Peixeiro irão apresentar o trabalho do Euroscola, intitulado «A Educação na Europa - Que Oportunidades?».
Força e coragem, pois não é para qualquer um!
A Carolina Mateus e a Ana Sofia Teixeira serão as nossas Deputadas na Sessão Nacional que decorrerá nos dias 30 e 31 de Maio de 2011, na Assembleia da República; A Marisa Cidade e a Filomena Peixeiro irão apresentar o trabalho do Euroscola, intitulado «A Educação na Europa - Que Oportunidades?».
Força e coragem, pois não é para qualquer um!
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